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Sonho de Tarkovski


Disse certo monge

Que podemos mudar o mundo

Se repetirmos o mesmo gesto

Com a paciência

De nada esperar

Sou água que flui

E que, em câmera lenta,

Desafia a gravidade

Ficando quase parada no ar

Também sou aquele stalker

Emblema de profética maldição

Guiando desilusões existenciais

Para zona proibida e irracional

Por detrás dos ícones

De um genial e obscuro Rublóv

Homônimo do infante Ivan

Por que temer o rolo compressor

Se só o que pode pará-lo é som

De impreciso violino

O menino ainda não fala

Porque o silêncio é voto

De ressurreição

O mundo não mais se destrói

Pelo desatino de seus próprios pares

Somos mesmo o confronto com nossos duplos

No misterioso oceano vivo de Solaris.

Ainda há a nostalgia dos carinhos maternos

É no líquido espelho que veremos

O jardim mutilado pelo nosso egoísmo

Ao final, resta só o mutismo

E o fogo que de nosso verbo nos purifica

Só o sacrifício nos salva do abismo

Para além das absurdas guerras

É o que nos dignifica.


Marco Villarta

Lavras, 20 de junho de 2022.


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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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