Sonho de Tarkovski
- Marco Villarta

- 20 de jun. de 2022
- 1 min de leitura
Disse certo monge
Que podemos mudar o mundo
Se repetirmos o mesmo gesto
Com a paciência
De nada esperar
Sou água que flui
E que, em câmera lenta,
Desafia a gravidade
Ficando quase parada no ar
Também sou aquele stalker
Emblema de profética maldição
Guiando desilusões existenciais
Para zona proibida e irracional
Por detrás dos ícones
De um genial e obscuro Rublóv
Homônimo do infante Ivan
Por que temer o rolo compressor
Se só o que pode pará-lo é som
De impreciso violino
O menino ainda não fala
Porque o silêncio é voto
De ressurreição
O mundo não mais se destrói
Pelo desatino de seus próprios pares
Somos mesmo o confronto com nossos duplos
No misterioso oceano vivo de Solaris.
Ainda há a nostalgia dos carinhos maternos
É no líquido espelho que veremos
O jardim mutilado pelo nosso egoísmo
Ao final, resta só o mutismo
E o fogo que de nosso verbo nos purifica
Só o sacrifício nos salva do abismo
Para além das absurdas guerras
É o que nos dignifica.
Marco Villarta
Lavras, 20 de junho de 2022.




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