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Sonho de René Magritte

Sob a condição humana

Não posso olhar no espelho

E enxergar senão meu ato de olhar

A face oculta pela traiçoeira nuca

Ou por insidioso capuz

Não delimito as bordas

Dos quadros que pinto

E nunca sei se o quadro

Ou a suposta cena

É que se prolongam na tela

Isso não é um cachimbo

Se eu desenho ou digo

Não há abrigo para a coisa em si

A chuva fria e rala lá fora

Não me molha nem me assusta

São idênticos homens de preto

Chapéu coco e guarda-chuva

Que as nuvens oferecem

Sou eu que retrato o mundo

Ou ele é quem me esboça

Ao olhar para o céu claro

Embaralho quem é quem

Parece que é há imenso olho

A me espreitar no gesto

Em que empresto às tintas e à luz

Algo de profundamente humano

A ilusão do fiel desenho que seduz

O necessário engano

O inconsciente, surreal, no fundo

É o que nos conduz.


Marco Villarta

Lavras, 20 de junho de 2022.

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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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