Sonho de René Magritte
- Marco Villarta

- 20 de jun. de 2022
- 1 min de leitura
Sob a condição humana
Não posso olhar no espelho
E enxergar senão meu ato de olhar
A face oculta pela traiçoeira nuca
Ou por insidioso capuz
Não delimito as bordas
Dos quadros que pinto
E nunca sei se o quadro
Ou a suposta cena
É que se prolongam na tela
Isso não é um cachimbo
Se eu desenho ou digo
Não há abrigo para a coisa em si
A chuva fria e rala lá fora
Não me molha nem me assusta
São idênticos homens de preto
Chapéu coco e guarda-chuva
Que as nuvens oferecem
Sou eu que retrato o mundo
Ou ele é quem me esboça
Ao olhar para o céu claro
Embaralho quem é quem
Parece que é há imenso olho
A me espreitar no gesto
Em que empresto às tintas e à luz
Algo de profundamente humano
A ilusão do fiel desenho que seduz
O necessário engano
O inconsciente, surreal, no fundo
É o que nos conduz.
Marco Villarta
Lavras, 20 de junho de 2022.




Comentários