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Vislumbres

O alegre gecko leopardo

toma sol numa pedra quadrada

O velho arquejado se banha

é de outro povo que não sei divisar

O jovem, no sonho, séculos atrás

ouve de sua amada

a gaélica canção

Compreende sua origem

Com a vaguidão com que é possível

enxergar a tênue matéria do tempo

Não sei quantos mais vou vislumbrar

Mas, hoje sereno,

sei que em todos eu fui

e que as formas cambaleiam

tremeluzem na coreografia

dos ires e vires

devires

menires

que circulam a roda da vida

sei pouco do que eu sou

sou singular

sou parte do todo

sou o todo em centelhas

metamorfoses

meios de se compreender

Já aprendi ser sonhado

e me comprazo que, ao fim,

serei memória do Ilimitado

eterno também

só desconheço

a quem eu ajudo a sonhar

serão as joaninhas do meu jardim

os dóceis e fugidios saruês

o perfume de uma orquídea

ou a singela flor do mato

que teima em tomar sol

nas frestas do chão?


Marco Villarta

Lavras, 31 de dezembro de 2023

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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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