Sonho impressionista
- Marco Villarta

- 22 de mai.
- 1 min de leitura
A noite é profunda e longa
A escuridão impede medir as distâncias
avaliar o escoar impreciso do tempo
Como na velha torre da igreja já demolida
circundam as relembradas suindaras
O céu tem o tom metálico dos intensos pesadelos
Dentro da capela, empoeirada e fria
não há pessoas, nem banco algum
Não vejo altares, nem sacrários
E é como se tudo fosse, afinal, profano
ando, escolho os passos, trôpegos
foge o fôlego, arfa o peito
nem o ar parece ser da Terra
da porta de vidro, fechada
vejo a carcomida quadra
ao longe a antiga alameda
Penso, conjecturo se sonho
ou se apenas meu olhar envelheceu
Pois que há, sim, as idades do se ver
e o desfocar do que sente a alma
espíritos antigos vão embaralhando a memória
confundindo os aquis e os ondes
misturando os momentos
imbrincando as remembranças
em cada pedacinho da nossa indivisível unidade
somos, ainda, como crianças
sem a certeza do que vemos
com os medos do que virá
o diverso é faltarem as mãos onde segurar
seja o que for o difuso cenário
lá fora e aqui dentro
cai, como pátina
o denso silêncio
o incalculado devagarinho
de não se saber vivo ou morto
o torto descaminho
o prolongado desalívio.
Marco Villarta
Lavras, 08 de fevereiro de 2024.




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