top of page

Sonho impressionista

A noite é profunda e longa

A escuridão impede medir as distâncias

avaliar o escoar impreciso do tempo

Como na velha torre da igreja já demolida

circundam as relembradas suindaras

O céu tem o tom metálico dos intensos pesadelos

Dentro da capela, empoeirada e fria

não há pessoas, nem banco algum

Não vejo altares, nem sacrários

E é como se tudo fosse, afinal, profano

ando, escolho os passos, trôpegos

foge o fôlego, arfa o peito

nem o ar parece ser da Terra

da porta de vidro, fechada

vejo a carcomida quadra

ao longe a antiga alameda

Penso, conjecturo se sonho

ou se apenas meu olhar envelheceu

Pois que há, sim, as idades do se ver

e o desfocar do que sente a alma

espíritos antigos vão embaralhando a memória

confundindo os aquis e os ondes

misturando os momentos

imbrincando as remembranças

em cada pedacinho da nossa indivisível unidade

somos, ainda, como crianças

sem a certeza do que vemos

com os medos do que virá

o diverso é faltarem as mãos onde segurar

seja o que for o difuso cenário

lá fora e aqui dentro

cai, como pátina

o denso silêncio

o incalculado devagarinho

de não se saber vivo ou morto

o torto descaminho

o prolongado desalívio.


Marco Villarta

Lavras, 08 de fevereiro de 2024.

Posts recentes

Ver tudo

Comentários


Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

Copyright © 2025. Todos os Direitos Reservados

bottom of page