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Sexagésima


As mãos dos velhos Em sua frágil firmeza E seu tremor contido Às vezes parecem Segurar os objetos Com respeitosa escusa De tocar mais que na forma O que dorme nas memórias brincar com errática trajetória das pontas dos dedos Nas migalhas Limalhas Ou quaisquer outras falhas Ver o que falta nas ruínas Ouvir para além da física surdez O entrealém por detrás das linhas Os abandonados projetos De malsucedidos caminhos A pele fina sempre pede licença Para tatear as fissuras E se a pressão do toque ainda dura É escura e vaga a explicação Envelhecer é povoar-se de luzes Mesmo quando já não são os olhos Sentir os aromas de quem já se foi Porque já se começa a entender Que não tem ida, nem volta E já não revolta o falso fim E não só os espectros Mas os contrabrilhos que cintilam Ensaios de efêmeros passos Burilam preciosas pedras Ciosas perdas Já que nunca de fato se possui O que no entremeio de cada fibra É o rio que escoa em pulsante vida É o infinito mar que sempre flui.


Marco Villarta São José dos Campos, 06 de abril de 2023.

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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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