Rosas não falam
- Marco Villarta

- 5 de jun. de 2022
- 1 min de leitura
Atualizado: 20 de jun. de 2022
O que teria dito Romeu
À sua amada Julieta
Para além do que Shakespeare escreveu
Porque há algo de Pirandello
Em cada personagem
Há uma sobra ou excesso do que são
Nós, personas, também,
Encenamos um ensaio que ninguém vê
Romeu teria dito, talvez,
Julieta, beijar-te
É beijar cada instante de morte
Que nossos corpos fugazes repartem
Lembrar de ti
É cercar a rosa no terreno árido do jardim
E acreditar que só possa ter esse nome
Que alguém antes te deu
Mas que somente eu entoo com tal paixão
Tivéssemos quaisquer outros nomes
Seríamos tais amantes ?
(Ou a nossa voz é que nos define
Assim como o nosso olhar único)
Porque, para mim, serás sempre a cena intensa
De um colorido e de um contorno
Que outros nunca podem ver.
Enfim, o que teriam significado
As pausas
De Romeu ou de Julieta
No diálogo que nem Shakespeare pôde saber
Pois que existiram
Existem
Para muito além das páginas e dos palcos
São fantasmas
São nascidos de pedaços de cada um de nós
Do passado e do futuro
No eterno retorno do que vivemos
Sonhamos
Com-partimos
Somos eles também
Porque, mais que os amores,
As palavras são impossíveis
Os seres são impossíveis
Ultrapassam o tempo
Criam a ilusão das memórias
Afinal, recordar
Não será nunca reviver
Mas tornar ao coração
A dor insuperável
De não (se) saber.
Marco Villarta
São José dos Campos, 27 de julho de 2017.




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