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Rosas não falam

Atualizado: 20 de jun. de 2022



O que teria dito Romeu

À sua amada Julieta

Para além do que Shakespeare escreveu

Porque há algo de Pirandello

Em cada personagem

Há uma sobra ou excesso do que são

Nós, personas, também,

Encenamos um ensaio que ninguém vê

Romeu teria dito, talvez,

Julieta, beijar-te

É beijar cada instante de morte

Que nossos corpos fugazes repartem

Lembrar de ti

É cercar a rosa no terreno árido do jardim

E acreditar que só possa ter esse nome

Que alguém antes te deu

Mas que somente eu entoo com tal paixão

Tivéssemos quaisquer outros nomes

Seríamos tais amantes ?

(Ou a nossa voz é que nos define

Assim como o nosso olhar único)

Porque, para mim, serás sempre a cena intensa

De um colorido e de um contorno

Que outros nunca podem ver.

Enfim, o que teriam significado

As pausas

De Romeu ou de Julieta

No diálogo que nem Shakespeare pôde saber

Pois que existiram

Existem

Para muito além das páginas e dos palcos

São fantasmas

São nascidos de pedaços de cada um de nós

Do passado e do futuro

No eterno retorno do que vivemos

Sonhamos

Com-partimos

Somos eles também

Porque, mais que os amores,

As palavras são impossíveis

Os seres são impossíveis

Ultrapassam o tempo

Criam a ilusão das memórias

Afinal, recordar

Não será nunca reviver

Mas tornar ao coração

A dor insuperável

De não (se) saber.


Marco Villarta

São José dos Campos, 27 de julho de 2017.



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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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