Pó e cinzas
- Marco Villarta

- 13 de jun. de 2022
- 1 min de leitura
Memória é mosaico em movimento
Momentos, miragens, moinhos
Instantes intensos, infinitos...
Sei das coisas somente nos depois
Os agoras são sempre silêncios
Os aquis são lugar-nenhum
Enquanto não visto por fora
A túnica, o túnel, o tempo
A tempo de chegar a um fim
Ao termo de um caminhar
Sei que não isento de dores
Não sei se abismos profundos
Ou intermináveis desertos
Até respirar, às vezes, machuca
O sensível tecido da alma
Dilacerada, estilhaçada
Saudosa dos pedaços que faltam
Dos projetos inconclusos
Dos gestos que pararam no ar
A sintaxe se quebra
O sopro de vida enfraquece
Já não sei de mim
O que eu sabia era você
Ser meu espelho, azimute
Meu zênite, astrolábio,
centro de gravidade
Como se eu estivesse solto
No escuro do espaço sideral
Sinto me desintegrar
A dor não cessa, não passa
A cada dia, me conformo menos
Aos atos diários da vida
A cada instante, me torno
Menos que um espectro
Mais que um pesadelo encarnado
Uma insônia, mesmo ao dormir
Um choro contínuo, mesmo ao sorrir
Inexisto, evanesço
Começo até a perder o que dizer...
Marco Villarta
São José dos Campos, 29 de agosto de 2021.




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