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Pó e cinzas



Memória é mosaico em movimento

Momentos, miragens, moinhos

Instantes intensos, infinitos...

Sei das coisas somente nos depois

Os agoras são sempre silêncios

Os aquis são lugar-nenhum

Enquanto não visto por fora

A túnica, o túnel, o tempo

A tempo de chegar a um fim

Ao termo de um caminhar

Sei que não isento de dores

Não sei se abismos profundos

Ou intermináveis desertos

Até respirar, às vezes, machuca

O sensível tecido da alma

Dilacerada, estilhaçada

Saudosa dos pedaços que faltam

Dos projetos inconclusos

Dos gestos que pararam no ar

A sintaxe se quebra

O sopro de vida enfraquece

Já não sei de mim

O que eu sabia era você

Ser meu espelho, azimute

Meu zênite, astrolábio,

centro de gravidade

Como se eu estivesse solto

No escuro do espaço sideral

Sinto me desintegrar

A dor não cessa, não passa

A cada dia, me conformo menos

Aos atos diários da vida

A cada instante, me torno

Menos que um espectro

Mais que um pesadelo encarnado

Uma insônia, mesmo ao dormir

Um choro contínuo, mesmo ao sorrir

Inexisto, evanesço

Começo até a perder o que dizer...


Marco Villarta

São José dos Campos, 29 de agosto de 2021.

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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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