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Profecia

O diáfano roçar

da imperceptível seda

das mãos que quase se tocam

dos lábios que hesitam

o definitivo beijo

os destrutivos turbilhões

os fluidos que correm

os que partem

os que morrem

as tristezas mais profundas

e as corrosivas decepções

a insuportável luz da supernova

as inexplicáveis escuridões

os atos abruptamente interrompidos

e os que nem chegam a se realizar

as promessas que se trincam

sem remendos, nem retorno

as esperanças, ainda que ingênuas,

ainda que absurdas, utópicas

as frases por dizer

enlaçando os silêncios

tão solenes e tão triviais

dos limosos telhados

antes ou depois

da ronda dos inquietos gatos

o profundo e sincero

olhar dos cães

Hão de valer a incompleta sina

Hão de fazer cumprir a pena

ou a dádiva de estarmos aqui

a desesperada e sublime poesia

Hão de ser memória do infinito

no sem-fim do ilimitado rio

no mistério do fio

com que se tece

o inescrutável tempo

com que se enlaçam

todos os destinos.


Marco Villarta

Lavras, 30 de maio de 2024.

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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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