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Peregrino II

Atualizado: 13 de jun. de 2022

Hoje ando apático pelas ruas Ensimesmo um quê de distraído ar Um pisar com indecisa leveza De quem já se sente um pouco estar indo Para um lugar sem geografias E um tempo sem história Olho de esgueio para as pessoas E agora, em algumas vejo O que não reparava jamais Somos como queijos curados O fermento da vida Nos solidifica as entranhas Põe nos intervalos da alma Buracos, orifícios Sinais do que fermentou Do que somos de ausências E descontínuas amputações Vejo em cada peito Um esburacado tecido do coração Não o físico, mas aquele outro Que pensamos ser onde sentimos, Quais antenas, nossas dores e paixões Nos pedaços que faltam As pessoas põem echarpes, Coloridas estampas Tatuam um sorriso nos lábios Pintam olhos nas lentes Fingindo pretensa visão Disfarce para fitar absorto Os abismos da recordação Sinto que elas me pressentem E me vejo pertencendo ao crescente número Dos que se dissolvem Nos redemoinhos de solitárias trajetórias Memórias de junto caminhar Os pés se acostumam Dizem eles – penso – por telepatia astuciosa Só dói quando existimos O ar que nos sustenta Vai também nos matando Tudo se oxida Até mesmo a infinita consternação.

Marco Villarta São José dos Campos, 02 de setembro de 2021


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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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