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Murmúrio


Dor alheia, estrangeira Que gerou a cada um de nós Dor própria, cujas causas ignora E não se importa a quais corpos tinge de um sangue que verte nem sempre das veias Qual o tamanho de uma dor ? Qual sua unidade de medição ? Equidistante do abismo Que é não saber ao outro definir Se o que rasga a alma É ausência do que nos faz feliz Ou a presença do que nos foi tirado Talvez a intermitência das incertezas Quem sabe a reiteração de exaurir A impossível leveza da vida Imponderável garantia de seguir A memória do ontem esvaindo-se No continuum do depois Mas é só aqui, é só agora É só presente, sem consciência Do instante que se move Incognoscível condição Sentença existencial Doer é saber das partes Desconhecer o outro Sentir-se órfão na criação Rever-se no anverso de um espelho Que reflete somente a sombra Que, enfim, dilacera as esperanças Instala-se um (sono)lento torpor O vento carrega a areia fina Sou, quem sabe, como as dunas Dói-me o não permanecer.


Marco Villarta Lavras, 26 de agosto de 2021.

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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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