Mosaico
- Marco Villarta

- 3 de jun. de 2022
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Para Arthurzinho
Quando criança, Vi numa enciclopédia Dessas colecionadas em fascículos e moedas contadas Uma página sobre mosaicos O colorido fascinou a criança ingênua e pobre Tanto quanto a mágica daquelas pedrinhas Depois vi nas revistas de artesanato Em documentários Em templos e outras arquiteturas impessoais Sempre me encantou a geometria dos mosaicos Construir desenhos, cenas, acontecimentos A partir de unidades sem nenhum valor Simples, singelas pedrinhas O passar do tempo me ensinou outras geometrias A de cada linguagem que inventamos Signos inertes que se juntam em abstrações Borges me ensinou que textos e vidas também Não são mais que essas linhas Labirintos Ou rotos fragmentos de textos que se repetem A velhice, porém, Me transportou para uma matemática mais cética A criança ainda sempre por aprender O jovem, tecido de tantas utopias Em (des)vão pensamentos Concebiam os mosaicos como soma de tudo o que vivemos Apesar de minhas reticências E com um sentido diverso Quase concordo com o velho Platão Conhecer é recordar Mas A memória não é também acréscimo Jorge Luís dizia que era a identidade pessoal Mas o sacerdote Tzinacán deixou de saber-se O mago das ruínas circulou sua estupefação Ao descobrir-se sonhado por outros Lembrar-se é progressivamente Esquecer-se Nesse deslizante rio que Heráclito nos fez nos banhar E o mosaico não é senão as pedrinhas que vamos perdendo A cada pedaço nosso que se vai Nas pessoas, nos lugares Nos bichos, nas plantas que vão morrendo, solidários, como cada célula que inexoravelmente deixa de ser.
Marco Villarta São José dos Campos, 11 de fevereiro de 2020




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