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Molitva II

Desperto cansado de todas as dores

De todos os sonhos

E sinto no espelho do tempo

A fatigada antiguidade da alma

exaurida por tantas viagens

Sofro pelos que sofrem

Respiro o pouco ar

das profundas cavernas

o rarefeito vento

de estratosféricos invernos

e na quase inaudível melodia

do quase silêncio das noites

tombo minhas sombras

na face intangível do Ilimitado

Me resigno ao impossível

de se conhecer

resisto aos fortes furacões

Já não sou eu

nem sei quantos já fui

ou que por ventura

ainda poderei ser

Por entre os sonhos do infinito

sinto ser pequenina centelha

da lua de Shiva

no átimo de cósmica poeira

em que me irmano

a todos os demais

sou ínfima parte

de tênue regolito

sou singularidade

assim como sou parte

da indistinta fonte

e se sei que me despedaço

é porque enfim retorno

à evanescência da luz

à incompreensível

e mais que infinita

dispersão.


Marco Villarta

Oliveira, 24 de dezembro de 2023.

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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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