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Mnemônica


Feito Funes, memorioso personagem borgeano Vou sendo esmagado pelas memórias Cada gesto, cada ato, cada objeto são recordações Quase acredito em Platão, com suas reminiscências Pelo menos, para mim, viver é fazer tornar ao coração O que eu impregnei de meu no caminhar diário A dor que sinto não é um querer me livrar É, sobretudo, uma crônica inflamação da alma Não porque a tenha adoecida, não é patologia No sentido de doença. É pathos, resposta à vida É inflamada, porque em chamas, tocada pelo fogo Que animava minhas pernas, transbordava dos olhos Minha mente compreende que amar é infinita dádiva Que não se deve querer reter somente para si História tão bonita não pode quedar-se incógnita Há que se amar, em tempos de tão intenso ódio Cumpre andar ereto, ainda que com o cajado na mão E responder com coragem, fazendo jus ao que foi construído Difícil é convencer as fibras vibrantes que batem no peito De que a alma, etérea e leve, sabe mais da fé e das dores Que o ainda saudoso, dilacerado coração.


Marco Villarta Lavras, 26 de setembro de 2021.

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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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