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Lares



Chego em casa

O cansaço do corpo

Como que uma ausência de alma

As sandálias se arrastam

Detenho meus olhos na chama dos lares

Nas escarpas alaranjadas das chamas

Vejo o futuro e não o passado

Por um átimo

Encontro com os olhos

Piedosos

interrogativos

De filhos que não terei

De gerações que pisarão

O chão sem saber

Que seus calçados

Carregam um pouco de mim

Pó que voltei a ser

Tornarei às montanhas

Ao fundo dos mares

Quem sabe às estrelas

De onde saímos todos

Na face crestada

O suor já não escorre

Não há pranto

Nem sede

Suspeito, porém,

Que olhos passados

Também observam

Sou o que foram

Serei os que não sei

Misterioso capricho

O tempo

Aracne, descubro,

Não foi punida

Por tecer lindos tecidos

Era o tempo, talvez,

Que com graça

e beleza

teceu

o que enciumou Atená.


Marco Villarta

23 de outubro de 2017

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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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