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Jornada

Os pés descalços pisam a terra morna

E tornam errantes

para o de onde partiram

para o de antes de terem nascido

Retiram-se leves, como o orvalho suave

Ou a tépida brisa que mal se sente soprar

As mãos calejadas roçam os ásperos troncos

Mas nesse encontro rugoso tudo é sutil

Por entre os sulcos da planta e do humano

Há fluíres, mistérios que mais que devires

E não há quem tire essa íntima relação

Os olhos fechados adivinham um possível pássaro

Atento à matinal tocaia dos despertos gatos

Erráticos caminhos

Pouco divergem

Das retas estradas

Que o começo e o fim

Se arredondam

Em círculos, esferas

Parábolas, espirais

A caravana da vida difere das formigas

Em sua estrita obsessão

Assemelha-se mais às circunvoluções

Da fumaça indócil

Que teima de ziguezaguear

Rumo a não se sabe onde

Para evanescer-se não se sabe quando

Em algum misterioso ponto

Do rarefeito ar.


Marco Villarta

Lavras, 01 de fevereiro de 2024.

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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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