Idílio
- Marco Villarta

- 4 de jun. de 2022
- 2 min de leitura
Para a (e)terna esposa Neusa Cardoso
Aos 21 de anos de casados
Pouco sei do que antecede o nascer E do que sucede o evanescer-se da vida presente Sei da memória e do indizível Um dia, o menino viu uma moça E estremeceu. Intuiu. Recordou-se ? Recordar é fazer tornar ao coração O já vivido Desconheço a corrente do tempo E se já fomos ou se ainda seremos Percebi sua presença Num entremeio de tempos, espaços Docemente tocado, invadido Pela suave intensidade Fui cedendo ao irrevogável Soube em você meu desígnio Meu presságio Meu continuum no vir a ser Fiz-me homem, humano, ser de luz Fui seu pólen, cresci para o amor E começamos a nos sonhar Cresci junto Com sua persistente fé No que poderíamos... Enganei-me, sempre Você me fez cada vez mais Aprendizagem da vida De mim, de você Do inescrutável Na etimologia o momento é irmão da memória Como não me re-conhecer em você Nos gestos sonhados Nos atos compartidos No profundo silêncio de almas consentidas Ser grato é jogar-se sem espera Sem reservas No fluxo pleno da vida Nunca saí, jamais sairei igual Desse mergulho em você Do qual emergi como esse nós Capaz, com doçura, E não menos intensidade Ver-se um e outro Para além do espelho do tempo. Platão imaginou um passado idílico Em que éramos esferas Infelizmente separadas e prementes De encontrar a parte rasgada de si Você é a rara e preciosa Dádiva que tive, que tenho De refundir-me nessa unidade. Com você descobri o que Nunca se perdeu Você me fez despertar Do esquecimento de Que sempre continuamos No paraíso*.
Marco Villarta
São José dos Campos, 23 de junho de 2021
*Alusão a um trecho do conto "Rosa de Paracelso", de Jorge Luís Borges.




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