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Glifos


Há um ritmo em cada fala

Mesmo quando se cala

A voz que se enuncia

Como há também

Impreciso siso

No vacilo de toda letra

Nos pulsares de cada escrita

Há sempre sagrados glifos

Mesmo nos profanos pichos

Nas indecifráveis lousas

Pois, bem lá no fundo

Do profundo do que somos

Dessabemos os dizeres

Da condição de pobres seres

Desconhecemos os tênues fios

Que entre as margens dos rios

Em que fluímos juntos

Tecemos contares

Habitamos fictícios lugares

Retornamos sempre

Para nossos perdidos lares

Voltando de guerras

Trazendo as escassas presas

Que nos alimentarão

Por imprecisos tempos

E na bruma que entretemos

Nas pausas de necessário pouso

Demarcamos nas finas folhas

Ou nos espessos rolos

Até, ainda, no virtual dos dígitos

Silenciosas escarpas

Intervalares farpas

Rugas de cada fronteira

Que somente os que viverem após

Serão capazes de, perplexos,

Tentarem decifrar

Não a clara luz de estável razão

Mas as dobras do tecido

As fissuras do entredito

As faces que mantemos

Mesmo quando já não nos vemos

Senão no anverso do espelho

No infinito de outros planos

No desengano dos que, saudosos,

Ou intrigados, nos adivinharão.


Marco Villarta

Lavras, 15 de junho de 2022.


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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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