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Geometrias

Sou do concreto

embora não pareça

que eu meça as distâncias

entre o ser e o estar

Sou do concreto

por calcular as lonjuras

das puras saudades

no que elas duram

por entre os momentos

distensos no tempo

Sou do concreto

por esquadrinhar os mergulhos

nos poços profundos

Pois os mundos dos sonhos

meus e dos outros

é abismo sem muros

mescla de passados, futuros

dores que tentam

às vezes, em vão,

comunicar-se nos gestos

emergir dos silêncios

na urgência dos viveres

haveres de quem se costura

nos fios duros da estrada

dessaberes dos quens

que a cada ponto da vida

mais desaprende

do que compreende

mais acumula dúvidas

do que concatena

sou do concreto

mesmo no desenho imperfeito

nos feitos suspensos

na geometria imperfeita

com que no canto da vida

soo estranho

um tanto desconexo

simples pelo avesso

como todos os demais

descomplexo

na (e)vidência da impossível

descoberta de tudo

da mera noção do que somos

do que sou ou espero

pulsante mutação do inquieto

quase sempre longe (ou perto)

da escuta do mundo.

Sou concreto

não pela dureza das misturas

Sou concreto

pela perene urgência da vida.


Marco Villarta

Minas Gerais, 12 de novembro de 2023.

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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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