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Cosmoutopia

Algum dia céu e terra Novamente se unirão Reconciliados, Gaia e Urano Farão ao mundo devolver Frescor dos mitos antigos Inquietação de um mundo recente Para além do que está em cima E aquém do que é o mais profundo Haverá uma alegre ciranda Cronos será um manso senhor Que se apieda dos ventos sutis E do paterno céu que o gerou Místicas liras hão de dedilhar Os cantos, não de guerra, Nem de conquistas navais Nem Tróia ou Esparta. Atená vai enfim serenar Sem armas ou escudos Apenas com sua luz inspirando Alvorada, paciente despertar Sangue não se desperdiça Herói não se presta a desafiar Tântalo, Sísifo, Prometeu Serão exemplos virtuosos Sem serem acusados De a natureza dos deuses Grosseiramente profanar Há de existir no jogo das crianças Nas ágoras de pólis diversas Mais que mero imitar dos guerreiros Mais que subjugar excluídas concidadãs Sofia é, antes de mais nada, Paixão pelo mistério Suave verdade a desvendar Tirésias já pode o mundo ver Presente agora, o aqui e o já Sequer Homero pode cegar Os cantos de júbilo Parecem errar de lugar No final, não restam senão As palavras com que se inventam Mil artifícios para contar, enfim... Outros testemunhos relatar Nesse outro mundo importam as ilhas imaginadas Imaginárias porções rochosas Contraponto de forças sutis Então, se a Hélade tudo criou, Não é astuto ardil vingar o rapto Feminino pretexto para a ambição Desnecessária ambrosia Seja no calcanhar Do alto do impassível elmo Os deuses já não são. Os primeiros humanos, dormem, enfim Não são, no sonho, nem menos, nem mais A espera da morte não guarda memórias Quando chegar, já não acompanharei E se inútil e vão meu canto for Que, ao menos, seja ainda ouvido Fazendo de conta o mundo ser apenas escolha Lamento rouco ecoa do Tártaro Basta a um deus ausência de cultos E sua proteção, de todo, cessará No derradeiro minuto, desfiladeiros A planura irão placidamente oferecer Os deuses já não brincam com humanos destinos Desatino o diferente pensar Se somos entregues ao próprio desígnio Numa futura ilha, chamada Utopia, Até os poemas hão de se encantar.

Marco Villarta São José dos Campos, 28 de agosto de 2021


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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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