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Cicatriz

Vivo por entre sombras

E sei que sou ou serei

Ou terei sido alguma delas

Também

Descobri que as existências

Se atravessam

Se interpenetram

Sem a aparente solidez dos corpos

Sem o peso da matéria

De que são feitas as formas

Sem as coincidências dos tempos

E quando as sombras

Já não se tocam

Já não projetam juntas

Fractiquânticas figuras

Em surreais projeções

O que parece restar

É a infinitude do abismo

O interminável do assombro

A ininterrupta queda do escombro

E nesse indizível vazio

É que as dores se assentam

Com o desconforto de não caberem

Nas poltronas

De ser eterna a antessala

De lugar nenhum

Então percebo que a vida

Pode ser a ambiguidade do risco

Perigo ou traço

Não nos importa

O que nos comporta

É sermos trapezistas

De sulcarmos o tênue fio

De habitarmos o provisório

Do peremptório mistério

Angústia da espera

Dor do devir.


Marco Villarta

Lavras, 22 de julho de 2022.

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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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