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Cavilações

Descobri que a geometria

a verdadeira

ainda que misteriosa

é a das linhas tortas

pois os grandes volumes

amarrotam a toalha de mesa

em que nos servem o existir

Descobri a mais elementar

matemática da vida

primeiro, que a contagem do mundo

não pára no número dois

e, mesmo o que é dual

não é feito de polos equidistantes

porque dois é ambivalente

o que é deixa de ser

sem nunca, talvez,

completamente ter sido

os opostos não meramente

se atraem

às vezes se destroem

desconfio haver no mundo

um duplo de mim

evitando me encontrar

sob pena de, enfim,

nos reduzirmos ao pó

os opostos do espelho

hão de ter semelhanças

secretas similitudes

senão

como comparar

Descobri a álgebra das coisas

pois signos são isso

ou um pouco menos

ou também seu excesso

Descobri, afinal

que o que há

são os mistérios

um debaixo do outro

não sei há rosto

por detrás de cada máscara

sei que há sempre

 outra maquiagem

mais uma diversa face

e não me importo

com a desontologia

das seguras certezas

fluo

plano

pairo

sobrevoo o que sou

ou que penso que sou

e vou

e voo

para o onde que não é lugar

e não se esconde

num poço cilíndrico

a toalha rendada

é filigrana de áureos fios

fractal de intrincados rios

é o que não sabemos

pois é esse o encanto

o fascínio do trajeto

o diáfano do porvir.


Marco Villarta

Lavras, 28 de junho de 2024

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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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