Cavilações
- Marco Villarta

- 22 de mai.
- 1 min de leitura
Descobri que a geometria
a verdadeira
ainda que misteriosa
é a das linhas tortas
pois os grandes volumes
amarrotam a toalha de mesa
em que nos servem o existir
Descobri a mais elementar
matemática da vida
primeiro, que a contagem do mundo
não pára no número dois
e, mesmo o que é dual
não é feito de polos equidistantes
porque dois é ambivalente
o que é deixa de ser
sem nunca, talvez,
completamente ter sido
os opostos não meramente
se atraem
às vezes se destroem
desconfio haver no mundo
um duplo de mim
evitando me encontrar
sob pena de, enfim,
nos reduzirmos ao pó
os opostos do espelho
hão de ter semelhanças
secretas similitudes
senão
como comparar
Descobri a álgebra das coisas
pois signos são isso
ou um pouco menos
ou também seu excesso
Descobri, afinal
que o que há
são os mistérios
um debaixo do outro
não sei há rosto
por detrás de cada máscara
sei que há sempre
outra maquiagem
mais uma diversa face
e não me importo
com a desontologia
das seguras certezas
fluo
plano
pairo
sobrevoo o que sou
ou que penso que sou
e vou
e voo
para o onde que não é lugar
e não se esconde
num poço cilíndrico
a toalha rendada
é filigrana de áureos fios
fractal de intrincados rios
é o que não sabemos
pois é esse o encanto
o fascínio do trajeto
o diáfano do porvir.
Marco Villarta
Lavras, 28 de junho de 2024




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