top of page

Cantiga


Vou-me embora, é hora, já findei O corpo implora, alma chora, eu sei Talvez seja ensejo nobre, sobrevivência A urgência de tanta paz, a sede de existir Pois fustigam os dias antigas, profundas dores Na intermitência das memórias a fluir Feito orvalho, feito lágrimas, talvez como seiva Renovando prantos, cantos roucos Aos poucos arcando as costas, alquebrando os passos Se o espaço percorrido valeu a pena Não é tarefa minha volver o rosto, avaliar Se foi pequena, por mais que tenha sido a trilha Brilha ainda, sempre, seu rosto, seu olhar É privilégio ter vivido tão infinito amor Sortilégio amigo, dádiva de um plano superior Sou grato, fui pleno, e, sereno, cabe continuar Há memórias pra honrar, há que, mesmo no silêncio, Poder contar da beleza, do sublime. Sei, enfim, que essa certeza me redime.


Marco Villarta Lavras, 19 de novembro de 2021.

Posts recentes

Ver tudo

Comentários


Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

Copyright © 2025. Todos os Direitos Reservados

bottom of page