top of page

Campanário



Dobram os sinos, de saudade

não tem quem a espante

Pedaço que vai para longe

Para bem distante,

para muito além

Pedaço que não volta nunca mais

São retalhos, patchwork incompleto

a cesura já não liga

a textura, rota, se desfaz...

História interrompida

o silêncio faz a brisa quedar-se

em paz estranha, fugaz...

Olho ao redor,

o vazio imobiliza tudo

dormente, jaz falsa quietude

Incapaz de fazer novamente

O mundo voltar a girar

O vidro trincou,

o relógio já não serve ao propósito...

não marca mais o tempo

Findou-se o ciclo, afinal

A luz é fria e nada mais ilumina

Os passos são trôpegos, vacilam

As palavras enroscam nos lábios

A saliva grossa é primitivo barro

Mas, estéril, não permite a criação

Falta o sopro de vida, ânima

Alma que se foi, de volta ao lar

Sem sair de onde estou

Fui para o exílio, da vida, de mim

Sem ar, sem luz, sem porquê

Os pensamentos flutuam

A dor oscila, e é arritmia,

Sincopada execução,

desafinada harmonia

Quantas dores adivinho, outras,

Que são vizinhas,

que são deserto

Inferno

Armagedon.


Marco Villarta

São José dos Campos, 02 de setembro de 2021.

Posts recentes

Ver tudo

Comentários


Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

Copyright © 2025. Todos os Direitos Reservados

bottom of page