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Calendas

Atualizado: 20 de jun. de 2022



No espesso da noite

Os distantes gatos miam

Não sei se de solitário apelo

Ou, enfim, de solidário convite

Penso que só conhecemos

Os seres que comparamos

A súplica triste que ouço dos gatos

Não é diferente das nossas

Somos estilhaçado vidro

Entre tantos espelhos

Nesse caleidoscópico terreno

Somos plenos de inquietações

Nos enganam as simetrias perfeitas

Nos iludem a suposta beleza

Dessas coloridas formas

Que só de longe

Mostram sua geometria

Se algum deus fez tal mosaico

Só do outro lado de cada face

Dessa espelhada galeria

Essas pedras que somos

Talvez tenham seu valor

Jamais saberemos de dentro

E, se um dia, um provável tempo

Ou a ausência de qualquer relógio

Nos permitir essa transposição

Esqueceremos as ínfimas

Continhas coloridas

Ingênuas peças

Que somos

Que fomos

Enfim, abandonaremos

A irreal consciência

Do que temos.


Marco Villarta

Lavras, 16 de junho de 2022.

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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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