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Ampulheta III

Atualizado: 31 de ago.

Para meu pai


É como se os fortes

vencessem a morte

e posassem nas selfies

com a alegria inerte

de insossa imortalidade

É como se o freeze das fotos

fosse contra o movimento dos átomos

E tal qual o indefinido sépia

das borradas memórias

a história nem mais existisse

não importa se os corpos

se carbonizam, se vaporizam

ou se dissecam, desconjuntados

por balas ou por estupros

É como se não fizéssemos parte

e a sincera arte fosse barata perfumaria

A dor no peito não é só física

é a perdida geometria

dos assimétricos poliedros

é a sintaxe dos ódios e dos medos

é o falso império da razão

é o cinismo dos que professam

a tibieza dos que desacreditam

arrogante nomeação

a dos pobres sapiens

os grãos de fina poeira

continuam se atraindo

em nebulosas distantes

sem sequer saberem de nós.


Marco Villarta

Lavras, 28 de maio de 2024.

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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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