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Ampulheta

Atualizado: 20 de jun. de 2022



Até onde a erosão contínua

Quando crianças, somos imunes ao tempo

Entre sonhos, fantasmias

O mundo é uma fotografia

A padaria sempre ali

Os velhos sempre velhos

Os adultos, gigantes, eternos

Heróis, épicos exemplos

Mas crescemos

Alguns envelhecem

No corpo e nessa recôndita energia

Que chamam de alma

E vemos

Apesar dos olhos vacilantes

Tempo é apenas motor

Nossa grande entropia

É conviver com outras caminhadas

Rumar para o fim nos corrói

Ora porque muitos se distraem

Outros se ocupam do supérfluo

No fim

Apenas incompreensão e impotência

Perguntas sem resposta

Porque o mundo não fala

Fomos nós que inventamos a língua

Como se falar nos desse a chave

Que algum deus se esqueceu de por

Na porta da caverna

Mas

Ao contrário daquela outra

Na porta não há a luz

Das verdadeiras coisas

Somos Homero, Demócrito,

Édipo ou Borges

Se há a luz, o senhor já sabe

Não é para nosso deleite

No labirinto sem paredes do mundo

Não sabemos se há a saída

Somos muitos

Porque ouvimos murmúrios

Mas não veremos a luz.

Estamos perdidos

Estamos sós

Somos cegos.


Marco Villarta

Lavras, 20 de setembro de 2017.


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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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