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Alteridades


Num inverno monótono Um homem tenta se ver Na embaçada superfície Da janela No excesso de neve clara Sente dificuldade de ver-se E de prescrutar o mundo Talvez no emudecido cenário Tenha pensado no mistério Do ser e do conhecer-se Acaso pensou Numa face anterior Demiúrgica, suprema Movimento primeiro Do olhar Antes de entender-se vendo A si próprio Lévinas, então, teria pensado Na face de Deus Não tão longe Alguns russos pensavam Diverso Divinal seria não se ver nunca sozinho Mas conhecer-se olhado De outro lugar Singular experiência de outro ser Que nos representa Se fosse Borges, Diria que, em vero, Nos sonha. Acaso as faces sonhadas Serão tão cambiantes Quanto o mundo que as cerca E que Nelas deixa os sulcos Mesmos da terra Na terra, no ar ? Acaso onde estarão as faces que vemos E quais serão as que nos veem?


Marco Villarta São José dos Campos, 22 de junho de 2021

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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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