Spes
- Marco Villarta

- 14 de abr. de 2023
- 2 min de leitura
Se o sono dos lutos É oblívio dos vivos Sobreviventes do caos
Se o silêncio dos peitos E o trêmulo das pernas Traz o peso dos obscuros Labirínticos porões
As lágrimas que ainda vertem Se revestem de tantas túnicas Única estrada de pedregosa dor
Se a coragem quase arrefeceu Se os pedaços arrancados de mim Foram plena antítese do céu Foram abraços que chegaram ao fim
Se por tudo isso lutei pesados lutos E enfrentei a verborragia dos brutos Mas os duros golpes no peito São bem mais que matar
Somos sobreviventes De armageddons, ragnaroks Somos os errantes escribas Na poeira de abandonadas estradas
Somos retalhos e andrajos Somos incertos peregrinos Por debaixo de negro sol
E, enfim, depois da esperança partir Dos sonhos serem só básico respirar Vemos que há que se ter luz Mesmo sem ter olhos para ver
Há que voltar a coragem Para repor os pés no caminho Mesmo quando sangram Pelo pontiagudo das pedras Pelo entrar torto nos buracos
Há que se recriar a esperança Porque não conquistamos uma glória E ainda não construímos nada
Somos retalhos, recortes E se somos fortes, é porque aprendemos Tomamos por exemplo o próprio fim
Mas os retalhos se unem Sob hábil mão de artesã, de artesão E as monótonas notas Há quem as junte Em magistral melodia
Quando os densos miasmas Deixam de cobrir os pântanos E o escuro da noite cede lugar A uma claridade que não é lá de fora É luz que se relembra de alumiar É fogo que se tinha esfriado Sem as pessoas à sua volta Contando histórias
É contraparte do recôndito do humano Mas em suas tênues chamas de luz Pois que as sombras têm sua outra idade E envelhecem para dar vazão À tímida claridade Discreta condição De um mundo que gira De um universo que pulsa Da frugal certeza de que Há ainda ar para se poder respirar.
Marco Villarta Lavras, 31 de outubro de 2022




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