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Para Neusa Cardoso, em homenagem aos seus 70 anos.

Me pergunto como serão os aniversários na eternidade? Por aqui contamos em anos, dias, horas, minutos Com especial reverência, computamos as décadas Acho que começo a compreender, a saber como é Primeiro, há no eterno, uma inexatidão sem fim Ao mesmo tempo (eu disse “tempo” ?) – falha minha Uma precisa síntese, um mergulho infinito num ponto só Desejar marcar com as medidas dos nossos imprecisos relógios Parece quase uma ofensa, pouco afeto com nossa história A memória parece falhar, mas lembrar-se de tudo, num ato só Não é esquecimento. Antes, pode ser que, aprendizes do todo, Tenhamos aprendido, juntos, os sentidos do inexato existir Não me recordo do antes, não sou profeta pra saber do depois Sinto, porém, a dimensão do infinito, do absoluto, do numinoso O que há de bonito, o que há do sem-limites desse além-da-paixão Jamais conhece fronteiras. Nunca há de deixar de suave, fluir Visito o mistério para onde você partiu, e sinto receber seu beijo No imaterial dos sonhos, nas faces ocultas de alienas efígies Somos, embora separados pela névoa do que a todos espera, Uma mesma moeda, que não verá as mãos avaras do amargo Caronte Parabéns, meu amor, porque você nunca vai deixar de estar aqui e além Como antes de todos os princípios e depois de todos os apocalípticos finais Somos um, somos matéria e energia, somos desperdida arqueologia De quem sonhou um ao outro, e faz, com a beleza dessa trajetória O peito querer respirar, e a morte não impedir o ar, doce brisa A névoa do mistério, conjugando as almas, impotente, se dissipar.

Marco Villarta São José dos Campos, 04 de setembro de 2021