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Solstício de inverno


Se nessa vida, fomos tanto

Por que não ter fé na espera

Que tais como elos de corrente

Sejamos tão eternos quanto

Sóis que desconhecem poente.

Se esse adeus é um dos muitos

Por que não contar com frutos

Que só crescem entre tempos

De não se fiar nas contas

De terços ou de equações

Nosso amor é do infinito

Réstia de luz tão sagrada

E o bonito é termos sabido

Que não findaria a estrada

Que não há descabido fim

Do que é tão sublime

Assim como o perfume

Se espraia no ar rarefeito

Só pode ser mais que perfeito

Esse canto de musas sutis

Todos os céus dedilham

Esse divino estribilho

Não é a primeira vez

Nem será a derradeira

Há amores que não são

Caminhadas provisórias

E sei que tais histórias hão

De soldar mundos invisíveis

Harmonias impossíveis

Para quem do divino descrê

Não procuro senil demiurgo

Que seja verdugo do humano

O sacro está no encontro

No construir no intervalo

É nunca se achar pronto

Para esgotar o sem-fim

Ao explicar tamanho afeto

Sei que falho em torná-lo

Compreensível para os que

Ainda tateiam os porquês

Dádivas que escanteiam

As mais secretas razões

As tão discretas sensações

De algo entre aquém e além

Do que se esconde na fronteira

Entre a dor e ventura suprema

E do amor que todas as mortes cura

É insígnia, é o mais doce emblema

É a mais perfeita e sã loucura


Marco Villarta

Lavras, 22 de junho de 2022.

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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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