Semitons
- Marco Villarta

- 8 de jun. de 2022
- 1 min de leitura
Atualizado: 22 de abr. de 2023
Foi na música que encontrou alguma consolação. Todos achavam que eram as letras, mas seu jeito de ouvir era para além das línguas humanas. Descobriu que havia na música, um compassado jeito de a alma se mostrar. Não eram notas, não eram pausas, nem algo propriamente musical. Descobriu o que paira no coração antes do corpo do artista tocar no que antecede o próprio executar. E quando a música de fora vem encontrar com sua metade perdida, bem lá no fundo do aqui dentro, há, num recanto qualquer, do mais distante pulsar, uma explosão que recria o ato de o Universo existir. Para a morte não há hinos, diz. Há um solene arranjar do silêncio, pelo respeito do que temos em comum. Saber das coisas da alma é raro, mas não há os que descobrem fazer. Quem for àquela encruzilhada, vai ver que ele continua lá. Não é para os olhos dos vivos, que são sempre um projeto de morrer. Porém os que conseguem, ficam mais leves, quase encantados. Há uma hierarquia das coisas. Pode-se dizer que ele apenas ocupou o lugar que precisava para cumprir seu destino.
Marco Villarta
Lavras, 31 de agosto de 2021.



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