Prólogo das Crônicas do Quarto Orbe
- Marco Villarta

- 26 de jun. de 2022
- 2 min de leitura
É uma inquietante questão definirmos se a origem de um texto (ou conjunto deles) é mais importante do que o ato de os autores e os leitores se despejarem em suas histórias, suas figuras e seu fio condutor.
A origem dessas crônicas é controversa. Os primeiros editores as publicaram como textos apócrifos. Pressionados pelo público e pela crítica, acabaram confessando (o uso desse verbo foi escolha deles) que tais textos haviam aparecido em diferentes países, em maços de in folio bilíngue. Escritos em uma língua desconhecida e traduzidos para a língua do respectivo país ou da respectiva região.
A intromissão de um mundo em outro, ou mais precisamente, de uma dimensão da realidade em outra não é novidade na história humana. Tal como a cópula e o espelho, a simples ideia de que isso seja possível tem como consequência uma radical transformação de como entendemos nosso mundo (e outros possíveis).
Fosse esse mundo também um terceiro orbe de um sistema planetário em algum ponto de nosso extenso e pouco conhecido universo ou, eventualmente, de outro, poderíamos pensar que, afinal, somos os mesmos, porém em níveis diferentes de realidade (seja lá o que isso possa significar). De qualquer maneira, esse orbe em que nos reconhecemos, mas ao qual não pertencemos nos faz pensar em quem efetivamente nós somos.
Como disseram dois dos maiores historiadores de nossa espécie, não basta que a história seja verdadeira. Há que encantar o leitor. Podemos acrescentar: há que ser tocante, sensibilizadora, motivadora de uma reflexão crítica que não seja burocrática.
Não sabemos quem engendrou esses textos, nem essas supostas traduções. Temos sempre o fantasioso desejo de que a partir de um único ponto, sejamos capazes de ver todos os outros. Ilusão, porque talvez o universo seja uma grande biblioteca, em forma de labirinto, com livros escritos em uma língua que não temos como compreender. Talvez como a(s) língua(s) do Quarto Orbe.
Lidos em nossas palavras, essas crônicas talvez sejam uma brincadeira absurda e sacrílega. Mas qual palavra não é absurda? Ao final, talvez nos restem apenas pedaços desconjuntados do que elas foram, do que fomos juntos com elas. Tal como os restos dos mapas que pretenderam ter o mesmo tamanho do que ousavam representar.
As crônicas do Quarto Orbe talvez tracem o desenho de nossas faces. Uma bricolagem de perplexidade e assombro. E para quem eventualmente as entenda ou decifre, já não importará quem é ou quem foi. Acaso interessa o destino desse ser porventura sonhado para quem vislumbrou os mistérios do Universo?
Marco Villarta
Lavras, 26 de junho de 2022




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