Peregrino
- Marco Villarta

- 2 de jun. de 2022
- 1 min de leitura
Atualizado: 16 de abr. de 2023
Quando partiu, as mulheres da família tinham o viço dos sonhos. Prometeu conhecer cidades e línguas. Desconhecia que, na estrada, colecionaria dores e solidões. Mas eram tempos de cartas de papel e de correios, com o tempo da escrita e de angustiada espera. Dizia ser vendedor, mas foi marinheiro, mascate, soldado e coveiro. Quando voltou, os homens da família já não havia. As poucas mulheres restavam grisalhas, algumas delirantemente senis. Os ralos cabelos pouco diziam do seu perambular. A pequena mala vazia e puída também pouco informava. Talvez quem olhasse para além das rugas que escondiam os olhos castanhos ainda visse os sonhos e seus avessos. O trabalho do tempo. Quando ficou, suas raízes rotas já não tinham um canto para se deitar. A terra é sempre a mesma, menos para as lembranças. Há que se ter um nome para onde retornar. Se soubesse escrever, talvez tivesse sido esse o seu epitáfio.
Marco Villarta Lavras, 18 de abril de 2016



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