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Miniensaio sobre a incompletude

Atualizado: 22 de mai.


No turbulento início do século XX, um russo, profundamente estudante da vida, da ciência e da arte, falou sobre a inconclusibilidade. Das personagens em relação aos seus autores, mas, também, de nossa vida individual, sempre dependente de um outro que nos atribua a inteireza, ainda que provisória e parcialmente construída. Chego a crer que destacar a inevitável presença do outro num mundo tão cada vez mais egocêntrico e ególatra parece uma tarefa muito especial. Mikhail sempre foi pobre e de saúde precária. Com seus amigos navegou pelas águas sinceras do fluido rio de Heráclito e das muitas dialéticas que o diálogo tenso, mas constituinte de cada um de nós, ajuda a sustentar. Penso que admitirmos nossa metonímica condição de sermos partes, participantes do assombroso acontecimento do existir, que enxergarmos nossa inevitável incompletude é uma espécie de redenção. Espero, talvez, que substitua nossa imatura arrogância. Assim como espero que, tal como as palavras-atitudes que coproduzimos, voltemos renovados na festa da corrente insondável do Grande Tempo.


Marco Villarta Lavras, 16 de fevereiro de 2023.

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Marco Villarta

Professor universitário, pesquisador, poeta, ensaísta, escritor, tradutor. Doutor em Letras. Nascido em São José dos Campos/SP - Brasil. Curioso pela vida e pelas pessoas, pela arte e pelos sonhos.

Membro correspondente da Academia Jacarehyense de Letras

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