Criação
- Marco Villarta

- 1 de jun. de 2022
- 1 min de leitura
Atualizado: 16 de abr. de 2023
No passado não existiam nem gatos nem tigres. A humanidade nascia e ninguém precisava ocultar os segredos. As velhas inscrições já estavam nas pedras e tudo seria profecia. Dos seres térmicos herdamos a paixão e da água a eterna perda de identidade, a busca sem fim, às vezes destruindo, outras fazendo viver.
A terra tremeu muitas vezes antes que os arcanos do sonho coabitassem sob os cabelos negros. Numa noite esquecida um homem intuiu o que era um homem e uma mulher sentiu nos olhos o brilho do céu e na garganta o som rouco da morte. Nasceu a palavra.
Os ventos ainda eram mansos e os homens cavalgavam vestidos de mitos e medos. Havia uma paz ruidosa, carnal, circundando a fogueira, antes das sombras serem, mais do que sombras, sonhos impossíveis e vagos.
As espadas ainda dormiam e, sem estradas, não havia para onde ir. Os deuses eram felizes e o pão não faltava. O sol aquecendo os campos indicava o tempo dos cromeleques e duendes. Os magos brincavam de chuva e as crianças sonhavam com fictícios dinossauros, como as de hoje brincam com ursos.
Marco Villarta
Campinas, 1990.



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